Era uma vez na Copa...: Euforia pela seleção x descompromisso com o projeto social

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Euforia pela seleção x descompromisso com o projeto social




 (http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/copa-do-mundo/2013/12/17/lista-de-acidentes-e-problemas-em-obras-de-estadios-da-copa.htm, acesso em 14/06/2014)


Por Jorge Luiz Souto Maior

Enquanto cidadãos saem às ruas portando bandeiras e apitos, desfilando uma euforia de serem brasileiros “com muito amor”, o Ministério do Trabalho e Emprego divulga a notícia de que as despesas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) deverão superar as receitas em R$ 12 bilhões em 2014 e R$ 19,9 bilhões em 2015[1]

Que despesas são essas? 31,9 bilhões, com seguro-desemprego; 16,9 bilhões, com empréstimos ao BNDES; e, 14,7 bilhões, para abono salarial[2].

O rombo, isto é, a diferença entre receita e gasto, se dá, sobretudo, pela insuficiência da base de incidência dos tributos destinados ao custeio dos benefícios sociais, que decorre do incentivo às contratações precárias, notadamente, a terceirização – que foi utilizada em larga escala nas obras dos estádios da Copa – , assim como do desrespeito reiterado, por parte de muitos empregadores, ao cumprimento das obrigações trabalhistas, o que, ao mesmo tempo, favorece ao aumento do desemprego, valendo lembrar que os trabalhadores empregados precariamente durante a preparação para a Copa acabaram, obviamente, engrossando a fila do seguro-desemprego.

Acrescente-se que os gastos com o BNDES aumentaram bastante também nos financiamentos das obras da Copa e, assim, o Fundo dos trabalhadores foi utilizado para financiar construção de estádios, correndo-se o risco dos próprios trabalhadores pagarem a conta. Lembre-se que desde 1º. de novembro do ano passado foram implementados maiores requisitos formais para o recebimento do seguro-desemprego, sendo que em agosto do mesmo ano “técnicos” do Ministério cogitaram elevar para oito meses de carteira assinada o requisito para a primeira solicitação do seguro, chegando a até 18 meses na terceira requisição, e reduzir o número das parcelas de pagamento a partir da segunda solicitação[3].

Ou seja, o rombo no FAT é um fator eficiente para demonstrar o quanto a racionalidade econômica para a Copa superou os interesses dos trabalhadores, mantidos sob o risco de perdas ainda maiores.

Num contexto mais amplo, a baixa arrecadação do FAT frente ao custo dos benefícios sociais que dele se extraem demonstra que há um enorme descompasso entre a euforia de portar a bandeira para torcer pela seleção brasileira e o efetivo sentimento de nação, que deveria advir, isto sim, do compromisso em torno do projeto constitucional de proteção ao trabalho, da preservação da dignidade humana, da função social da propriedade e do desenvolvimento da economia com base nos parâmetros da justiça social, visando a efetiva promoção da distribuição da riqueza coletivamente produzida. 

A desconsideração da importância desse projeto é o que explica tanto o rombo acima destacado quanto o fato de que nos estádios os cidadãos operários, que executaram as obras, não têm condições financeiras para neles entrar.

Parafraseando Lúcio Barbosa, na célebre canção, “Cidadão”:

Tá vendo aquele estádio moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Hora extra, terceirização
Pressão e acidentes prá contar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer

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